Luís Diogo
4 min leitura
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15 de mar. de 2024
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Estou no meio da floresta.
Ladeado por árvores.
Campos.
E ovelhas.
Decidi fazer um retiro.
Não é espiritual.
Não é organizado.
Nem em grupo.
É primitivo.
Eu sozinho.
A criar.
Não é a primeira vez.
Nem sou o único.
Bill Gates, Tim Ferris, Richard Branson, …
Não faço ideia qual a razão deles.
Só sei a minha.
TENHO APENAS UM OBJETIVO.
O Christopher Nolan ganhou um óscar.
Merecido e atrasado.
Se os filmes deles são bons.
O processo é genial.
Sou um fã do resultado e do estilo de vida.
Ele tem uma regra que gosto.
Um projeto de cada vez.
É simples.
Mas fica difícil no meio de tanta responsabilidade.
Pessoas. Objetivos. Métricas. Imprevistos.
E depois projetos.
Talvez seja esse o meu fascínio pela autonomia.
O desafio de criar uma empresa que não dependa de mim.
Poder dedicar-me apenas a projetos.
A criar, um de cada vez.
Com tempo e profundidade.
Como o desafio ainda não está resolvido.
E eu já não estou disposto a abdicar da criatividade.
Decidi isolar.
Cancelar agenda.
Limitar as comunicações.
E trazer um desafio.
Um projeto para eu desenhar do início ao fim.
Este é especial.
O projeto mais importante do ano.
É algo que vai ter impacto.
Eu contra a maré.
A remar para longe da manada.
Maio.
Regista!
TENHO O SILÊNCIO.
Tão preciso.
Como qualquer coisa de valor, escasso.
Aqui estou sozinho.
Não falo com ninguém.
Não ouço ninguém a falar.
É a provocação de um silêncio ensurdecedor.
E resulta.
Quando dou por mim estou fixo.
Distante.
A puxar ideias sei lá de onde.
É daí que vem a originalidade.
O Erling Kagge descreveu este poder.
"O silêncio na era do ruído."
Um livro atmosférico.
Daqueles que é melhor sentir que ler.
É isso que eu estou a fazer.
Li.
Agora estou a sentir.
Longe da caverna.
Longe da família.
Longe da rotina.
Longe do conforto.
TENHO O CUSTO DE OPORTUNIDADE.
Estar aqui tem um custo.
Estou longe do que mais gosto.
Mas eu sou investidor.
Só é custo se eu deixar.
Pode ser investimento.
E como qualquer investimento tem que ter retorno.
O retorno aqui é simples.
Tem que acontecer!
Não dá para adiar.
Protelar.
Viver no ócio.
Existe uma pressão constante.
Saudável.
Estou eu aqui.
A minha mulher lá.
A minha filha lá.
Tem que valer a pena.
É uma força que me puxa para o essencial.
Em casa é mais um dia.
Aqui é uma oportunidade.
E eu não vou desperdiçar.
TENHO O ALEATÓRIO.
A primeira vez que fiz isto.
Fiz diferente.
Primeiro dia organizei tudo.
Defini o que fazer.
Quando fazer.
Objetivos concretos.
Depois comecei a executar.
Idiota.
Perdi o mais importante.
O vazio.
O aleatório.
Não interessa o quê.
Não interessa onde.
E quando.
A única coisa definida é o desafio.
Esse é o único compromisso.
É uma abordagem totalmente diferente.
Desconfortável, confesso.
Sou sistematizado no sangue.
E o aleatório é uma batalha entre células.
Essa dicotomia é uma tensão.
Um confronto entre duas personalidades.
Conflito perpétuo na minha vida.
Aqui, provoco-me.
Já desenhei.
Pintei.
Fiz diagramas.
Dormi sestas.
Passei sem destino.
Cozinhei.
Em todos os momentos concentrei o pensamento numa coisa.
No desafio.
Não faço ideia de como estou no cronograma.
Mas o valor por ideia está elevado.
TENHO A COMPANHIA.
Quando saí de casa preparei 3 coisas.
Comida.
Livros.
E o meu cão.
É isso que eu tenho aqui comigo.
Estou limitado na comida.
O supermercado mais próximo é a 20 km.
Estou limitado nos livros.
Escolha intencional para o desafio.
Estou limitado na companhia.
Não fala. Só se aproxima.
Isto tem um efeito em mim.
Efeito de profundidade.
É uma lupa ao sol.
Concentra os raios num espaço muito pequeno.
Aproximas uma matéria inflamável.
Fogo.
É raro controlar estímulos.
Difícil porque a vida acontece.
Aqui criei um habitat.
Pensado e selecionado.
Para me deixar desconfortável.
Para me provocar.
CONCLUSÃO.
Todos os dias,
Acordo e quero voltar.
Quero ir para junto da minha família.
Deixar este frio.
Este desconforto.
Mas essa é a razão.
A justificação deste isolamento.
O poder deste retiro.
É uma procura.
Pela arte de criar algo diferente.
Uma procura por originalidade.
Eu só estou disposto a pagar o preço.
A ir onde ninguém quer.
A colocar energia onde ninguém valoriza.
No fundo, eu vir para aqui é um ato egoísta.
De satisfazer a minha ambição.
A minha exigência.
Sentir-me realizado.
Completo.
O produto é só uma materialização.
De eu olhar e estar convencido.
Convencido que valeu a pena.
Abraço,
Luís Diogo 🫡